Pesquisa realizada em
2008 pelo Ministério do Desenvolvimento Social sobre a população que vive nas
ruas foi constatado que 35,5% é motivado pelo consumo de álcool e droga
Não distante da
realidade dos grandes centros urbanos, Parintins vive um problema encontrado
nas capitais brasileiras. Pessoas sem moradia vivem nas ruas,
pedintes/mendigos, socialmente excluídos, entregues a própria sorte. Muitos
vindos de outros Estados não conseguem retornar por alguma circunstância,
encontram nas ruas o que restou para quem não tem mais opção.
A reportagem do Gazeta
Parintins presenciou casos reais de pessoas que vivem essa situação e se deparou
com uma realidade triste para qual muitos fecham os olhos. Há casos de moradores
de ruas cadeirantes, sem assistência, na esperança de um milagre para sair de
tal condição.
Através de pesquisa realizada
em 2008 pelo Ministério do Desenvolvimento Social sobre a população que vive
dessa forma, foi constatado que 35,5% vai para as ruas devido ao alcoolismo e
as drogas: 30% desempregados, 29%conflitosna família. Desses, 71% trabalham e 16%
dependem da mendicância para sobreviver.
De acordo com a
pesquisa os desprovidos de família, emprego, residência e bens materiais passam
a ser vistos como não cidadãos. Quando se explicita o que leva um sujeito a
morar na rua, se nota contradições de uma cultura de negação de padrões, sejam
eles políticos econômicos ou sociais.
O Artigo 25 da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotado em 10 dezembro de 1948 pela
Assembleia Geral das Nações Unidas, contém este texto sobre habitação e
qualidade de vida: “Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de
assegurar a saúde e o bem-estar próprio e de sua família, inclusive
alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais
indispensáveis, e direito à segurança social em caso de desemprego, na doença,
invalidez, viuvez, velhice ou falta de meios de subsistência em circunstâncias
fora de seu controle”.
Realidade
“Temos que encarar a
realidade do dia a dia, as pessoas pensam que a gente está assim porque quer,
muitas vezes não.Para ocadeirante, morador de rua que não tem parente nem
derente como eu fica difícil.A gente vai levando a vida não como Deus quer, mas
como a natureza pede, não se pode abaixar a cabeça e entristecer, devemos olhar
pra frente, pra si mesmo”, relata o morador de rua Daniel Caetano de Souza, 53.
Daniel é natural da
Ilha do Bananal, (Tocantins), deixou a terra natal ainda jovem na esperança de
um futuro melhor, mas infelizmente o destino foi cruel. Há cinco anos fraturou
o fêmurem um acidente, com isso ficou difícil trabalhar, passou a ser cadeirante,
sem família, moradia ou alguém para dar auxílio, vive a perambular pelas ruas na
cadeira de rodas pelo centro da cidade e consegue semanter vivo com esmola dada
pelas pessoas. De vez em quando anda acompanhado de outro cadeirante, também
morador de rua, conhecido como Pai Maués que não tem parte das duas pernas
O morador de rua declara
que não conheceu o pai nem a mãe, foi criado por estranhos, ganhou a cadeira de
rodas de uma doação, mas está danificada. Ele veio a Parintins com um grupo de
bolivianos que prometeram que o levariam de volta a terra dele. “Quando
chegamos aqui na terra do boi percebi que não estava em boas mãos, trouxeram e
me jogaram como se fosse um bode no chiqueiro”, conta.
O dia a dia para um
morador de rua não é fácil, relata Daniel, e quando tem alguma deficiência a
situação é ainda pior. “Tomo banho a noite numa pequena torneira que tem na
praça da antiga prefeitura, pois não tem como tomar banho no rio, para mim é
complicado não tenho como descer, dá para tomar banho na torneira, mas só à
noite de calção”, comenta.
Apelo
Daniel faz um apelo aos
novos administradores de Parintins e pede um local para se acomodar e fazer
atividades que ainda são possíveis realizar. “Peço que o novo prefeito olhe por
nós, consiga um local pra gente se manter, um centro de recuperação onde
possamos plantar, fazer artesanato, se locomover, não adianta levar para o abrigo
pra pessoa ficar trancada lá. Peço a elede todo coração, a Secretária, para
arrumar uma área pra levar essas pessoas desamparadas, porque muitos vivem na
peleja.Se fizesse isso creio que acabaria um pouco da bandidagem na cidade, tem
muita área desocupada que dá para aproveitar, poderia ajudar”, apela Daniel.
Ele revela que a
questão da acessibilidade é outro problema em Parintins,e ressalta que muitos
dos colegas que vivem na rua têm residência na cidade. “Você quer ir para
dentro do rio na orla, mas não atravessa porque não tem a rampa, esse é mais um
obstáculo que encaramos, infelizmente,acho que muitos por algum atrito no lar
estão nas ruas”.
O morador de rua
ressalta que está sujeito a violência, por pessoa que tem prazer em fazer
maldade. “Dois colegas meus foram esfaqueados recentemente. A pessoa que vive
na rua não tem sossego nem de dia, nem a noite”, argumenta.
Procurada pela equipe a
nova subsecretaria Vanessa Aguiar da Secretaria de Assistência Social e
Trabalho (Semast) para sabersobre o assunto, elainformou que acabou de assumir
a pasta, mas, estárealizando visitas aos centros de referências e assistência
social (Cras), Conselho Tutelar e Casa de Passagem Vovó Conceição, e assegura
que em breve a nova gestão vai se empenhar para resolver ou amenizar o
problema.
Vivendo
de sucata
Outro cidadão morador
de rua em Parintins é Sebastião dos Santos, 52, natural de Óbidos (PA) ehá 10
anos vive nas ruas da cidade. “Trabalhava num barco de pesca quando aqui fiquei
e não consegui mais retornar. Tenho família, meus parentes estão todos em
óbidos. A situação de um morador de rua não é fácil, precisa ser feito algo por
nós para sairmos dessa situação, muitos estão por vícios, outras coisas, mas
nem todos porque quer, a realidade é triste”, declara.
Sebastião ajunta sucata
todos os dias para vender e ganha em média R$ 4,50 por dia. “Com o dinheiro
compro a minha alimentação, só dá pra isso. Tenho dois filhos adultos em Óbidos,
eles já sabem que eu estou nessa situação, mas também não têm dinheiro para me
tirar daqui, um abrigo iria melhorar muito pra gente”, diz entristecido.
Relatório
Conforme o relatório do
primeiro Encontro Nacional Sobre População em Situação de Rua,realizado pelo
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome por meio da Secretaria
Nacional de Assistência Social, a populaçãoficoucaracterizada como:
grupopopulacional heterogêneo, composto por pessoas com diferentes realidades, mas
que têm em comum a condição de pobreza absoluta, vínculos interrompidos ou
fragilizados e falta de habitação convencional regular, sendo compelido a
utilizar a rua como espaço de moradia e sustento, por contingência temporária
ou de forma permanente.
Com isso, o surgimento
da população em situação de rua é um dos reflexos da exclusão social, que a
cada dia atinge e prejudica uma quantidade maior de pessoas que não se
enquadram no atual modelo econômico, o qual exige do trabalhador uma
qualificação profissional, embora esta seja inacessível à maioria da população.
Segundo o relatório, a
cada ano, mais indivíduos utilizam as ruas como moradia, fato desencadeado em
decorrência de vários fatores: ausência de vínculos familiares, desemprego,
violência, perda da autoestima, alcoolismo, uso de drogas, doença mental, entre
outros fatores.
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