segunda-feira, 15 de abril de 2013

Deus fora da sala de aula


     Pais ateus vão a centro educacional pedir que não seja falado nome de Deus para a filha

“Isso é o fim dos tempos. Se desde criança o ser humano aprende que Deus existe, é bondoso e dele vem a força do amor, se doou em redenção dos nossos pecados e ainda assim a violência é grande, imaginem se as escolas infantis começarem a não deixar pregar que ele existe? Aíesse mundo entra em colapso e chega ao fim”.
Foi dessa forma que Wendel Fogos (nome fictício), pai de um estudante do Jardim Alvorada, no bairro João Novo se expressou ao saber pela professora do filho que os momentos de orações na escola, assim como pronunciar o nome de Deus como ensinamento pedagógico, foram proibidos. A decisão teria acontecido porque a escola recebeu uma criança filho de ateus. Pais de outras crianças garantem que vão acionar a justiça e mobilizar manifestações para que os momentos de orações voltem a ser realizados nos centros.
Wendel diz ainda que a decisão o deixou perplexo. “Não sou contra religião e nem ideias de ninguém, mas se alguém não pronuncia ou acredita em Deus, isso é problema dele, agora não podem impor que compactuemos com isso. Antes de exigir os direitos, respeitem o direito e a vontade dos outros. Não aceitamos isso e vamos a justiça exigir para que nossos filhos continuem recebendo ensino religioso. Não entendo por que a Secretaria de Educação aceita acabar com as orações, Páscoa, Deus, Natal. O tal cidadão pediu que avisassem o dia que haveria reza para que o filho dele não fosse à aula. Se um homem desses é tão suficiente já que não acredita em Deus, então faz parte de alguma coisa, já que está tentado nos infernizar”, argumenta.

                               Liberdade


O artista plástico Marlon Brandão Silva que tem filho em um jardim de infância na cidade frisa que todos têm liberdade de expressão para seguir qualquer religião. “Eu aprendi que Deus está acima de tudo, e digo a essa pessoa, que a criança está em formação e está privando o filho de conhecer algo que até possa gostar. Ele como autossuficiente deve saber que a vontade de uma pessoa é absoluta desde que não prejudique as outras. Se implantada a vontade dele na escola vai prejudicar todas as crianças”, adverte.
Marlon diz que todos merecem respeito, mas não podem desrespeitar as crenças de crianças e dos pais que acreditam em Deus, qualquer doutrina ou seita. “Não podemos deixar que esse pensamento fira as famílias que acreditam em Deus e nossas crianças dos princípios éticos e morais que acreditamos, se não, que futuro teremos?” Questiona.
Uma senhora que também pediu para não ter o nome revelado e tem um filho na escola ressalta. “Procurou os direitos dele e foi decidido que não haveria mais esses momentos de orações e nada que falasse o nome de Deus na sala em hipótese alguma. Não é justo ver as crianças crescendo sem saber sobre Deus ou religião. Se não acredita, nós acreditamos que Deus existe e que Ele é bom”, reforça.

                               Gestão



A professora Esmeralda Lobato Barbosa, gestora do Jardim Alvorada, revela que em instituições públicas, principalmente nos Centros Educacionais Infantis a lei proíbe ensinamentos religiosos nas escolas. “Recebemos uma criança de pais ateus e tivemos que fazer adequações, em respeito as particularidades e não podemos negar ensino a qualquer criança. Pelos direitos da filha os pais exigiram a mudança. Fizemos a adaptação no momento religioso na sala para trabalhar valores em outros contextos como fábulas e contos históricos. Com a chegada dessa criança, que a mãe foi até o Secretário de Educação e apresentou as leis, mudamos a forma pedagógica”diz a gestora.
De acordo com a Constituição Federal, o ensino religioso é facultativo nas escolas de ensino fundamental, no infantil a Lei Educacional das Diretrizes diz que não se podesugerir para as crianças uma doutrina ou religião. “Por isso fizemos a adequação na sala em que a criança estuda. Houve um ajuste vindo da Semed e a partir disso, todas as escolas vão se adequar ao método e a realidade que estamos vivendo. Não queremos prejudicar ninguém, vamos trabalhar de forma a não ofender a opção sexual, religião de ninguém muito menos quem não acredita em Deus”, diz ela.

Reportagem: Ataíde Tenório

3 comentários:

  1. Se eu fosse esse pai ateu, aceitaria a divulgação da religião cristã, desde que em cada momento religioso se aprendesse também sobre outras religiões, como o espiritismo, o umbandismo, o candomblé, o agnosticismo... Que tal?

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  2. Confesso que fiquei parada com os dedos sobre o teclado, antes de comentar aqui. É fato que nasci em berço católico, que, desde muito cedo (no Jardim de Infância), tive contato com esta religião.
    Hoje, mãe, diante de tantos outros pensamentos, ideologias, religiões, também me sinto na obrigação de não induzir, neste tipo de escolha, minha filha. O que fazemos em casa é mostrar-lhe, com nossas ações diárias, valores como respeito ao próximo, carinho, tolerância, humildade, perseverança! Fazemos isto em CASA, em família.
    Ocorre que, nestes tempos globalizados, em que ficamos quase sem tempo para a educação de nossos filhos, estamos transferindo para a ESCOLA uma obrigação que é nossa, enquanto pais.
    Estes ensinamentos éticos, filosóficos, religiosos, devem sair do berço e não da escola. É claro que filosofia, ética, cidadania também são preceitos ensinados na escola, mas os religiosos não deveriam e não podem (constitucionalmente falando) ser feitos na escola.
    Concordo com o Peterson, se vai ensinar de uma religião, deve ensinar de todos. O que nos falta é entendimento, é tolerância.
    Assim como os pais na "reportagem" (não podemos dizer que foi uma reportagem, visto que impera a parcialidade) reclamam pelo "direito" de continuar com as orações, os ubandistas, ateus, mulçumanos, judeus, também têm o "direito" de não fazê-lo, e estes têm mais razão que aqueles, visto que vivemos um Estado de Direito LAICO!
    Enfim, há muito pano pra manga! Só gostaria de ver uma reportagem, de fato, a respeito para poder tirar as conclusões possíveis.
    Viva o respeito a Constituição!!!!

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  3. Se é pra ter ensino religioso em escola comum então pronto, cada semana fala-se de uma religião e cultos e por que não de ateísmo? É interessante mostrar a diversidade religiosa e ensinar que existem outras religiões e a não ter preconceitos contra pessoas que creem em A, B, C ou nenhum. Falam tanto em tolerar, em bom senso... e ai eu me pergunto:Cadê tudo isso? Penso que se alguém quer que o filho (a) seja religioso....deve então o matricular em catecismo, em culto ou qualquer atividade ligada a seu credo. É IMPORTANTE lembrar que é o querer do adulto. Uma hora a criança vai crescer e vai entrar em choque com muitas ideias do mundo. Pode se tornar frustrado e perdido religiosamente. Escola não é para impor uma religião. Ou lá se fala de todas as religiões ou então é melhor cortar a prática religiosa voltada para uma única crença nesse espaço. E mais, religião não define caráter. E eu também gostaria de ver uma reportagem mais completa sobre o assunto, pois o que vemos são opiniões de pessoas católicas, mas se for questionado a um pai evangélico se ele gosta que seu filho beije santo em escola, certamente ele também vai discordar, pois é isso o que acontece aqui em Parintins. Desde pequenos temos a maioria nos impondo uma religião, isso nos feriados municipais, nos nomes de bairros, pontos turísticos, no hino da cidade e até na escola. É importante que pare-se de demonizar o ateísmo. Quem é ateu não acredita nem em Deus e nem em demônio. Ser ateu não é querer a destruição da terra ou a briga entre as pessoas, muito pelo contrário, conheço pessoas ateias que fazem mais bondade ao próximo do que alguns que vivem fazendo sinal da cruz. E acredito que não tem nem como usar a desculpa que é porque é necessário trabalhar valores. Sei que existem muitas formas de trabalhar valores humanos de forma a nortear uma prioridade valorativa positiva, inclusive por meio de esportes como judô. Então nem tudo deve estar centralizado a Deus. Precisamos abrir nossos olhos. Tudo é uma questão cultural. E não é fim dos tempos. É construção de novos tempos, onde nós podemos contribuir para que tudo seja muito mais plural.
    Sue Cursino.

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