Comércio parintinense registra quedas nas vendas em 2013 e funcionários são demitidos
Economia enfraquece
no primeiro trimestre em Parintins. Esta é a declaração de comerciantes de
vários seguimentos de vendas na cidade. Eles afirmam que essa é a realidade
desde o início do ano de 2013.
Pedro Augusto
Esteves, atuante há quase 30 anos no comercio da Ilha, no ramo de materiais de
construção, naval, eletroeletrônico e veículos automotores, afirma o
desaceleramento do setor. “A Movimentação está em baixa na cidade. Tanto eu
como outros comerciantes temos que fazer milagre para driblar a deficiência e
adquirir novidades em material e produtos, pois, estes vêm de fora e precisam
ser pagos de imediato”.
Adelson da Silva
Albuquerque, comerciário há mais de 10 anos, conta que no setor de confecções,
móveis e eletroeletrônico a situação não é diferente. “A decadência no comércio
se acentuou nestes últimos meses de fevereiro em diante. Nesse setor o
movimento enfraqueceu tanto que nossa empresa foi obrigada a demitir 24
funcionários. O interessante é que nos últimos 10 anos, nossos empreendimentos
só cresciam e agora deu uma recuada”.
José Roberto
Carneiro Machado, trabalhador do comércio há 12 anos e, atualmente, gerente de
um supermercado, enfatiza: “Nos primeiros meses, houve queda de 40% nas vendas.
Antes, a gente sabia os dias de grande movimento, pois sempre começavam no dia
20 de cada mês e se estendiam até dia 10 do mês seguinte. Agora tudo é incerto
e a sacola diminuiu”.
Sem dinheiro
A falta de
circulação de recursos, segundo os comerciantes, é uma espécie de efeito
desencadeado pela falta de emprego, falta de pagamento em dia e incentivo a
outros setores econômicos.
Pedro Esteves
enfatiza: “Diminuição de posto de trabalho significa uma baixa no geral por
causa do efeito em cadeia de queda de renda do município. Mas tem que haver o
pagamento correto e em dia. Muitosfuncionários não compram por não saberem o
que vai acontecer, já que muitos ou são admitidos para cargo comissionado ou
por seletivo tem medo de não receberem. Essas inseguranças se resolveriam com
concurso público, pois o concursado se sente garantido e pode adquirir bens”.
Para Adelson
Albuquerque, o setor primário e as pequenas indústrias podem ser a saída. “O
setor primário é uma das áreas que tem recursos dos bancos, mas falta a
assistência técnica para ajudar o produtor. Também tem que incentivar as
pequenas indústrias para se organizar e legalizar-se. Muitas ainda estão no
amadorismo, por falta de orientação”.
HaraldyDinelly Filho
acrescenta: “Tem que fazer o dinheiro circular nas empresas locais. Como elas
estão desorganizadas, é preciso que tenham a orientação para se adequarem, pois
as empresas de fora levam a verba do município e a economia fica engessada.
José Roberto
adverte: “Não tem emprego público, não há dinheiro, pois sem fábricas e outros
meios de abrir novos postos de trabalhos, falta dinheiro na cidade”.
Consequências
As consequências do
desaceleramento econômico respinga diretamente nas pessoas de média e baixa
renda, devido a um círculo vicioso que se forma, uma vez que o trabalhador sem
emprego sofre privações.
Pedro Esteves
enumera: “Sem dinheiro o trabalhador não pode comprar nem construir. Além
disso, os alimentos consumidos em Parintins vem de fora, por isso tudo fica
mais caro.
Haraldy Filho
acredita que a crise econômica só demonstra que está havendo a concentração de
renda no município: “Para quem trabalha no ramo de açougue, isso fica claro já
que as carnes nobres são vendidas logo, como picanha, filé, e outras que custam
mais caro. Mas as carnes de preço mais acessível, compradas pela maioria da
população, permanecem. As pessoas entram no comércio, mas tem pouco dinheiro,
por isso compram poucos itens”.
Nos momentos em que
artigos de primeira necessidade passam a comprometer a maior parte da renda,
outros setores são colocados em segundo plano. José Roberto observa que no
supermercado que trabalha as compras da maioria dos parintinenses mudou.
“Agente observa que nesses meses os clientes só compram o essencial. Com isso
os ranchos que saiam daqui nos carros de entrega, agora são levados em sacolas
pelos próprios clientes”.
No setor de
eletroeletrônico Adelson Albuquerque assistiu a outros fatos. “Muitas pessoas
que perderam o emprego chegaram na loja com produtos elétricos,
recém-comprados, para fazerem devoluções. Pois, não tinham condições de pagar
nenhuma parcela. Outra situação comum é o fato do cliente, só ter recebido uma
parte do dinheiro e, por isso, não podiam saldar dívidas”. Todos os
comerciantes concordam que há inadimplência em todos os setores comerciários.
Solução à vista?
Empresário Adelson Albuquerque (esquerda) e o empresário Pedro Esteves (direita)
Os entrevistados
declararam a reportagem do Gazeta Parintins suas opiniões para aquecer a
economia no município.
Pedro Esteves
acredita se houver fortalecimento do setor primário e uma medida para
fiscalizar as ações das financeiras, a situação que hoje passa o município pode
mudar: “O setor primário tem verbas a ser destinadas a esse seguimento, no
entanto faltam os técnicos para orientar os agricultores nos cultivos e
melhoramentos. E infelizmente hoje o setor primário não funciona. Outro
problema é a falta de fiscalização nas financeiras, pois muitos dos nossos clientes
aposentados reclamam de se atrapalharem com mais de dois empréstimos”.
Já Adelson
Albuquerque acredita que o incentivo às pequenas fábricas influenciaria
positivamente a economia: “Em Parintins, a solução, é só a prefeitura e o
estado realisarem mais concursos públicos, e investir nas pequenas fábricas. Se
houver investimentos e os seguimentos estiverem organizados, podem conseguir
recursos e contratar muita gente”.
José Roberto
acrescenta: “Tem muitas fábricas na cidade que tem potencial, mas trabalham de
modo rústico por causa de falta de orientação para organizarem-se”.
Secretária extraordinária e secretária de finanças afirmam que, ainda este mês, a folha de pagamento será reduzida.
A secretária municipal extraordinária, Eliane Regina Paiva de Melo, que atua na Secretária de Finanças, informa que a prefeitura de Parintins tem projeto para a economia. “Há políticas públicas que visam o aquecimento do comércio. Uma das formas para isso é a regionalização das empresas que concorrem as licitações. Mas para isso elas precisam se organizar e ter condições de concorrer com as empresas de fora, pois a licitação é pública. A merenda escolar, por exemplo, deve ser composta por 30% de produtos da agricultura familiar, então é uma forma de proteger a regionalização. Mas as empresas em geral devem ter estrutura para ganhar as licitações e assim, movimenta o dinheiro”.
A secretária
Municipal de finanças Andrea Barata Teixeira, explica que o Concurso Público
Municipal deve vir, provavelmente, no ano que vem. “O assunto ainda está na
justiça. Depois que sair o resultado, vamos isentar quem já pagou a inscrição.
Ainda estamos fazendo acertos e reduzindo a folha de pagamento para poder fazer
seletivo e o próprio concurso público, pois é uma exigência, pois o número de
funcionários efetivos é menor de contratados”.
No mês de abril o
valor bruto da folha de pagamento do funcionalismo municipal está orçado em
6.888.476,84 reais. São 5.502 funcionários municipais entre os efetivos,
contratados e pensionistas. As secretárias afirmam que, ainda este mês, a folha
de pagamento será reduzida.
Dia do Trabalhador: Lamento e festa
O dia do trabalhador
tem uma carga histórica marcante. É festejado por alguns e lamentados por
outros. No caso de dona Maria José (56) não há motivos para comemoração. Depois
de mais de 20 anos de trabalho no município, a professora vive o drama do
desemprego. “Trabalhei desde 1985 no município, com carteira assinada que não
foi dado baixa. Já fui professora, por 13 anos, diretora de escola, trabalhei
em órgãos que desenvolviam o lado social, até que fui afastada da minha função,
no inicio do ano. Estou tentando contactar com o prefeito, mas ainda não
consegui. Os assessores me mandaram esperar ”, conta.
Maria José passa o
Dia 1º de Maio sem trabalho e comenta: “Está é a primeira vez que passo este
dia sem emprego. O que me dói é sair sem direito nenhum. Sem o dinheiro do
salário a gente não pode adquirir nada, pois não há segurança”.
Atualmente, Maria
realiza pequenos trabalhos, como costureira. E ela vê na costura uma forma de
driblar a tristeza enquanto aguarda o desenrolar do caso. “As pessoas ainda me
procuram e eu vou fazendo uns trabalhos de costura. Neste dia peço a Deus que
ilumine as autoridades para olhar com carinho os trabalhadores. Parintins deve
ser sonho para todo o povo, e que o povo esteja mesmo em primeiro lugar”.
Ao contrário de
Maria José, Adailson Leal (34), professor, aprovado no último concurso publico,
vive seu primeiro dia do trabalhador com emprego garantido. Ele completa um mês
como professor, com carga horária de 40 horas. “Sinto-me feliz e estabilizado,
pois a luta das pessoas, por emprego, é constante.”.
As vantagens de ter
um emprego estável, segundo Adailson se reflete muito na economia. “Com a
tranquilidade de continuar empregado de um ano para outro, nos permite
programar gasto e adquiri bens e até qualidade de vida”.
Para o professor, o
dia do trabalho merece reflexão. “Esse dia deve ser de reflexão pra todos. Os
que comandam o poder público, para que abram novos empregos. E para os
trabalhadores, o dia deve servir para pensarem cada vez mais como exercer com
responsabilidade sua profissão”.
Reportagem: Carly Anny Barros e Ataíde Tenório
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