quinta-feira, 2 de maio de 2013

Desaceleração econômica provoca demissões em Parintins


    Comércio parintinense registra quedas nas vendas em 2013 e funcionários são demitidos

Economia enfraquece no primeiro trimestre em Parintins. Esta é a declaração de comerciantes de vários seguimentos de vendas na cidade. Eles afirmam que essa é a realidade desde o início do ano de 2013.
Pedro Augusto Esteves, atuante há quase 30 anos no comercio da Ilha, no ramo de materiais de construção, naval, eletroeletrônico e veículos automotores, afirma o desaceleramento do setor. “A Movimentação está em baixa na cidade. Tanto eu como outros comerciantes temos que fazer milagre para driblar a deficiência e adquirir novidades em material e produtos, pois, estes vêm de fora e precisam ser pagos de imediato”.
Adelson da Silva Albuquerque, comerciário há mais de 10 anos, conta que no setor de confecções, móveis e eletroeletrônico a situação não é diferente. “A decadência no comércio se acentuou nestes últimos meses de fevereiro em diante. Nesse setor o movimento enfraqueceu tanto que nossa empresa foi obrigada a demitir 24 funcionários. O interessante é que nos últimos 10 anos, nossos empreendimentos só cresciam e agora deu uma recuada”.
José Roberto Carneiro Machado, trabalhador do comércio há 12 anos e, atualmente, gerente de um supermercado, enfatiza: “Nos primeiros meses, houve queda de 40% nas vendas. Antes, a gente sabia os dias de grande movimento, pois sempre começavam no dia 20 de cada mês e se estendiam até dia 10 do mês seguinte. Agora tudo é incerto e a sacola diminuiu”.

Sem dinheiro

A falta de circulação de recursos, segundo os comerciantes, é uma espécie de efeito desencadeado pela falta de emprego, falta de pagamento em dia e incentivo a outros setores econômicos.
Pedro Esteves enfatiza: “Diminuição de posto de trabalho significa uma baixa no geral por causa do efeito em cadeia de queda de renda do município. Mas tem que haver o pagamento correto e em dia. Muitosfuncionários não compram por não saberem o que vai acontecer, já que muitos ou são admitidos para cargo comissionado ou por seletivo tem medo de não receberem. Essas inseguranças se resolveriam com concurso público, pois o concursado se sente garantido e pode adquirir bens”.
Para Adelson Albuquerque, o setor primário e as pequenas indústrias podem ser a saída. “O setor primário é uma das áreas que tem recursos dos bancos, mas falta a assistência técnica para ajudar o produtor. Também tem que incentivar as pequenas indústrias para se organizar e legalizar-se. Muitas ainda estão no amadorismo, por falta de orientação”.
HaraldyDinelly Filho acrescenta: “Tem que fazer o dinheiro circular nas empresas locais. Como elas estão desorganizadas, é preciso que tenham a orientação para se adequarem, pois as empresas de fora levam a verba do município e a economia fica engessada.
José Roberto adverte: “Não tem emprego público, não há dinheiro, pois sem fábricas e outros meios de abrir novos postos de trabalhos, falta dinheiro na cidade”.

Consequências

As consequências do desaceleramento econômico respinga diretamente nas pessoas de média e baixa renda, devido a um círculo vicioso que se forma, uma vez que o trabalhador sem emprego sofre privações.
Pedro Esteves enumera: “Sem dinheiro o trabalhador não pode comprar nem construir. Além disso, os alimentos consumidos em Parintins vem de fora, por isso tudo fica mais caro.
Haraldy Filho acredita que a crise econômica só demonstra que está havendo a concentração de renda no município: “Para quem trabalha no ramo de açougue, isso fica claro já que as carnes nobres são vendidas logo, como picanha, filé, e outras que custam mais caro. Mas as carnes de preço mais acessível, compradas pela maioria da população, permanecem. As pessoas entram no comércio, mas tem pouco dinheiro, por isso compram poucos itens”.
Nos momentos em que artigos de primeira necessidade passam a comprometer a maior parte da renda, outros setores são colocados em segundo plano. José Roberto observa que no supermercado que trabalha as compras da maioria dos parintinenses mudou. “Agente observa que nesses meses os clientes só compram o essencial. Com isso os ranchos que saiam daqui nos carros de entrega, agora são levados em sacolas pelos próprios clientes”.
No setor de eletroeletrônico Adelson Albuquerque assistiu a outros fatos. “Muitas pessoas que perderam o emprego chegaram na loja com produtos elétricos, recém-comprados, para fazerem devoluções. Pois, não tinham condições de pagar nenhuma parcela. Outra situação comum é o fato do cliente, só ter recebido uma parte do dinheiro e, por isso, não podiam saldar dívidas”. Todos os comerciantes concordam que há inadimplência em todos os setores comerciários.

                            Solução à vista?

     Empresário Adelson Albuquerque (esquerda) e o empresário Pedro Esteves (direita)

Os entrevistados declararam a reportagem do Gazeta Parintins suas opiniões para aquecer a economia no município.
Pedro Esteves acredita se houver fortalecimento do setor primário e uma medida para fiscalizar as ações das financeiras, a situação que hoje passa o município pode mudar: “O setor primário tem verbas a ser destinadas a esse seguimento, no entanto faltam os técnicos para orientar os agricultores nos cultivos e melhoramentos. E infelizmente hoje o setor primário não funciona. Outro problema é a falta de fiscalização nas financeiras, pois muitos dos nossos clientes aposentados reclamam de se atrapalharem com mais de dois empréstimos”.
Já Adelson Albuquerque acredita que o incentivo às pequenas fábricas influenciaria positivamente a economia: “Em Parintins, a solução, é só a prefeitura e o estado realisarem mais concursos públicos, e investir nas pequenas fábricas. Se houver investimentos e os seguimentos estiverem organizados, podem conseguir recursos e contratar muita gente”.
José Roberto acrescenta: “Tem muitas fábricas na cidade que tem potencial, mas trabalham de modo rústico por causa de falta de orientação para organizarem-se”.


   Secretária extraordinária e secretária de finanças afirmam que, ainda este mês, a folha de pagamento será reduzida.

A secretária municipal extraordinária, Eliane Regina Paiva de Melo, que atua na Secretária de Finanças, informa que a prefeitura de Parintins tem projeto para a economia. “Há políticas públicas que visam o aquecimento do comércio. Uma das formas para isso é a regionalização das empresas que concorrem as licitações. Mas para isso elas precisam se organizar e ter condições de concorrer com as empresas de fora, pois a licitação é pública. A merenda escolar, por exemplo, deve ser composta por 30% de produtos da agricultura familiar, então é uma forma de proteger a regionalização. Mas as empresas em geral devem ter estrutura para ganhar as licitações e assim, movimenta o dinheiro”.
A secretária Municipal de finanças Andrea Barata Teixeira, explica que o Concurso Público Municipal deve vir, provavelmente, no ano que vem. “O assunto ainda está na justiça. Depois que sair o resultado, vamos isentar quem já pagou a inscrição. Ainda estamos fazendo acertos e reduzindo a folha de pagamento para poder fazer seletivo e o próprio concurso público, pois é uma exigência, pois o número de funcionários efetivos é menor de contratados”.
No mês de abril o valor bruto da folha de pagamento do funcionalismo municipal está orçado em 6.888.476,84 reais. São 5.502 funcionários municipais entre os efetivos, contratados e pensionistas. As secretárias afirmam que, ainda este mês, a folha de pagamento será reduzida.

Dia do Trabalhador: Lamento e festa

O dia do trabalhador tem uma carga histórica marcante. É festejado por alguns e lamentados por outros. No caso de dona Maria José (56) não há motivos para comemoração. Depois de mais de 20 anos de trabalho no município, a professora vive o drama do desemprego. “Trabalhei desde 1985 no município, com carteira assinada que não foi dado baixa. Já fui professora, por 13 anos, diretora de escola, trabalhei em órgãos que desenvolviam o lado social, até que fui afastada da minha função, no inicio do ano. Estou tentando contactar com o prefeito, mas ainda não consegui. Os assessores me mandaram esperar ”, conta.
Maria José passa o Dia 1º de Maio sem trabalho e comenta: “Está é a primeira vez que passo este dia sem emprego. O que me dói é sair sem direito nenhum. Sem o dinheiro do salário a gente não pode adquirir nada, pois não há segurança”.
Atualmente, Maria realiza pequenos trabalhos, como costureira. E ela vê na costura uma forma de driblar a tristeza enquanto aguarda o desenrolar do caso. “As pessoas ainda me procuram e eu vou fazendo uns trabalhos de costura. Neste dia peço a Deus que ilumine as autoridades para olhar com carinho os trabalhadores. Parintins deve ser sonho para todo o povo, e que o povo esteja mesmo em primeiro lugar”.
Ao contrário de Maria José, Adailson Leal (34), professor, aprovado no último concurso publico, vive seu primeiro dia do trabalhador com emprego garantido. Ele completa um mês como professor, com carga horária de 40 horas. “Sinto-me feliz e estabilizado, pois a luta das pessoas, por emprego, é constante.”.
As vantagens de ter um emprego estável, segundo Adailson se reflete muito na economia. “Com a tranquilidade de continuar empregado de um ano para outro, nos permite programar gasto e adquiri bens e até qualidade de vida”.
Para o professor, o dia do trabalho merece reflexão. “Esse dia deve ser de reflexão pra todos. Os que comandam o poder público, para que abram novos empregos. E para os trabalhadores, o dia deve servir para pensarem cada vez mais como exercer com responsabilidade sua profissão”.

Reportagem: Carly Anny Barros e Ataíde Tenório

Nenhum comentário:

Postar um comentário