quinta-feira, 11 de julho de 2013

Festas populares se tornam produtos industriais, analisa pesquisadora

   A galera fica horas na fila, a comissão determina, não é natural. Antes o povo ia de graça se divertir, hoje é espectador, diz a pesquisadora

A doutoranda em Educação pela Universidade da Espanha, Núbia Najar, declara que o Festival Folclórico de Parintins deixou de ser cultural e se tornou industrial. A professora do curso de artes visuais, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), conversou com a nossa reportagem na tarde de sábado (06) e falou sobre o novo aspecto da festa.
Para a pesquisadora que já esteve em vários eventos culturais da região Norte como jurada, nos três dias do Festival o povo não participa mais como antes, e, assegura que se tornou industrial, quando instituições e empresas se valeram da cultura parintinense como atividade econômica.
“A galera fica horas na fila, a comissão determina, não é natural. Antigamente, o povo ia de graça se divertir, hoje é espectador, a maioria de quem participa do Boi tem dinheiro. Cultura popular é quando o povo participa, brinca fora da questão econômica, e não encara filas imensas. Só assiste se tiver dinheiro, tem gente que pode pagar, e as pessoas mais humildes? É triste ver uma multidão assistir nos telões de fora do Bumbódromo, uma cena de exclusão, e quem tem recurso assiste ao espetáculo dos melhores ângulos”. 
A pesquisadora fala dos instrumentos introduzidos na festa a partir da década de 90. “A cultura popular da tradição do povo ganha um novo formato, é lindíssimo, mas voltado para uma indústria cultural. Há violino, outras músicas, cantores, sem relação com as músicas que eram produzidas pelos autores locais A cultura se transforma, mas não dessa maneira, hoje o dinheiro fala mais alto e o povo é deixado de lado”.

                    Encanto

Núbia Najar declara que o Festival Folclórico deixou de ser cultural e se tornou industrial

Najar explica que há um encanto pelo Boi, devido a divulgação midiática. “Municípios do Amazonas e de outros estados da região Norte pensam que o caminho é esse, mas a base da identidade cultural do povo se perde e se transforma em outra cultura, isso faz parte da evolução, mas é importante que continue a essência da identidade, onde o povo se vê como é, não que a cultura não se transforme, mas não pode ser esquecida”.
Ela cita que o Festival da Ciranda de Manacapuru, está cada vez mais parecido com o de Parintins. “Tem alegorias imensas, influência dos Bois. O pássaro Carão que era o principal personagem da festa, não tem a mesma força, está sendo esquecido, assim como, o Pai Francisco e a Mãe Catirina no Boi, que existem mas não com a força de antigamente”.
Em Maués, a pesquisadora observou que a tradição de fazer artesanato com a massa do guaraná está quase extinta. “A tradição vai sendo esquecida, não se tem mais a essência local, fica uma cultura geral, sem peculiaridade que a diferencie de um lugar para outro”, finaliza.


 Geandro Soares

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